Fonte: Ir e Vir de Bike – Gazeta do Povo
Morte na pista: Paraná é o segundo estado mais violento do país para os usuários de bicicleta.
A tragédia se repete e todos se perguntam: até quando? Enquando não surgem respostas, muitas vidas vão se tranformando em estatísticas.
Na manhã dessa quinta-feira, o ciclista Demétrius Kirache, de 41 anos, morreu enquanto pedalava com um grupo de amigos na altura do quilômetro 65 da BR-277, em São José dos Pinhais.
O ciclista foi atropelado por um caminhão desgovernado que invadiu o acostamento. Kirache morreu no local. Já o motorista-assassino fugiu em alta velocidade sem prestar socorro.
A informação da Ecovia, concessionária de pedágio que administra o trecho da BR-277, é de que a Polícia Rodoviária Federal (PRF) já tem a placa do veículo e está tentando localizar o motorista.
Porém, em contato realizado com o posto da PRF que fica mais próximo do local do acidente, o policial rodoviário Braga informou que não tinha a placa do veículo para tentar localizar o caminhão.
Acidente? Fatalidade? Não. Seria acidente se um raio tivesse caído na cabeça do ciclista...
Desde 2001, mais de 1,8 mil ciclistas morreram vítimas de acidentes de trânsito no Paraná. A média é de um acidente fatal a cada dois dias, segundo dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM/DataSUS), do Ministério da Saúde.
Com pouco mais de 5% da população nacional, o estado é responsável por 10% dos acidentes fatais envolvendo ciclistas em todo o país.
Em 2010 (dados mais recentes) o Paraná foi o segundo estado mais violento do país para os usuários de bicicleta, com 144 mortes nas ruas e estradas.
Comparar o número de mortes no trânsito com o de guerras já virou clichê, como dizemos no jargão jornalístico. A tese da Guerra no Trânsito deve mesmo ser refutada. Guerra pressupõe igualdade de condições de combate entre duas forças antagônicas que se reconhecem mutuamente como inimigas.
Guerras tem leis, ditadas pela Convenção de Genebra. Um trânsito que mata mais de 40 mil pessoas em um ano -- cerca de 110 brasileiros POR DIA -- não é bem uma guerra; é um GENOCÍDIO. Só não vê isso quem não quer ou que está do lado do "exército opressor".
Nosso trânsito -- um dos mais violentos do mundo -- é o retrato do nosso subdesenvolvimento civilizatório.
Vivemos em um país que permite a venda de bebidas alcoólicas em postos de gasolina na beira de estradas e rodovias com o argumento torpe de "manutenção de empregos"; em que pessoas invocam a "liberdade de expressão" como justificativa para denunciar locais de blitze policiais; e em que, a própria Justiça, cega como é, deixa crimes de trânsito impunes e, quando muito, troca vidas por cestas básicas.
Cuidado com as capivaras
Não se pode responsabilizar diretamente a Ecovia pelo acidente de hoje. Da mesma forma como não se pode eliminar totalmente sua parcela de culpa por todos os acidentes fatais que já ocorreram naquela rodovia.
É de conhecimento público e notório que a BR-277 é usada diariamente por grupos de ciclistas. Fato este que, aparentemente, só é ignorado pela própria concessionária.
Apesar do elevado número de acidentes fatais envolvendo ciclistas, a Ecovia tem ao longo da estrada dezenas de placas alertando os motoristas para a presenvação da capivara, da jaguatirica ou do papagaio-da-cara-roxa.
Assim como não há relatos comprovados de motoristas que tenham visto algum desses animais no meio da pista, não há registro de placas alertando para a presença de ciclistas no acostamento.
Se quer mesmo construir uma imagem de responsabilidade social, a empresa poderia fazer isso ajudando a preservar a vida das pessoas. Antes que os ciclistas se tornem uma espécie ameaçada de extinção...
Colaborou VITOR GERON
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