Cerca de 5,4 milhões de bikes devem ser vendidas neste ano.
Em número de unidades, esse mercado é 40% maior que o de veículos motorizados.
Publicado 18/09/2011|ALEXANDRE COSTA NASCIMENTO|Gazeta do Povo
André Haim, gerente da Agência da Bicicleta: novos modelos têm ajudado a criar novos ciclistas.
O lema dos cicloativistas – “menos carros, mais bicicletas” – faz sentido também na economia: no ano em que a indústria automotiva deve atingir a marca recorde de 3,82 milhões de unidades produzidas, entre automóveis, comerciais leves, caminhões e ônibus, o número de bicicletas comercializadas no país será cerca 40% maior, totalizando 5,4 milhões de unidades – marca próxima ao recorde de 5,5 milhões estabelecido em 2008.
O volume de vendas para este ano, estimado pela Associação Brasileira de Fabricantes de Motocicletas e Bicicletas (Abraciclo), coloca a indústria do setor próxima do seu patamar recorde, movimentando mais de R$ 850 milhões e consolidando o Brasil como quinto mercado consumidor e o terceiro maior fabricante de bicicletas do mundo.
Esses números, contudo, podem estar subestimados, pois não incluem a chamada “indústria informal”, de empresas que importam componentes separadamente e montam as bicicletas no país. “O mix de produtos é muito grande e as montadoras não fornecem esses números. A informalidade não nos permite ter a real situação do segmento no país”, diz o diretor-executivo da Abraciclo, Moacyr Alberto Paes. Segundo ele, as importações de bicicletas cresceram em média 50% ao ano nos últimos cinco anos, prejudicando o desenvolvimento da indústria local.
Invasão chinesa
Segundo revendedores nacionais, atualmente cerca de 70% das peças e equipamentos das bicicletas da Caloi e 100% dos componentes da Monark são “made in China” As duas são as principais fabricantes nacionais do setor.
Para tentar reduzir a marcha da invasão das bikes, o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) elevou na semana passada de 20% para 30% a alíquota de importação de bicicletas. A justificativa do governo foi a de proteger a competitividade da indústria nacional.
Mercado em alta
O aquecimento do mercado das bicicletas tem impulsionado o lançamento de novos modelos e produtos. A Caloi, líder do mercado brasileiro com 35% de market share, espera vender neste ano 1 milhão de bicicletas, com crescimento de 25% sobre 2010. Em faturamento, a empresa pretende crescer 30%, atingindo R$ 300 milhões.
De acordo com a fabricante, uma das oportunidades de crescimento está justamente no segmento da mobilidade. “Com vários produtos lançados durante o ano e o crescimento da categoria, as vendas da empresa no segmento mais que dobraram”, informa a empresa.
Nas próximas semanas, chegará ao mercado a primeira bicicleta dobrável da marca, a Caloi Urbe. O modelo é facilmente desmontável e pesa menos de 12 quilos. O lançamento é uma tentativa de atender os usuários que buscam a integração da bicicleta com outros modais, como metrô, trem e ônibus. O preço ficará em torno de R$ 1,5 mil.
Mas, de acordo com o vendedor da bicicletaria Portella André Guilherme Kelczeski, é possível encontrar bons equipamentos a partir de R$ 700. “Abaixo disso, a qualidade dos componentes pode ficar aquém do recomendado e os gastos com manutenção acabarão sendo maiores”, orienta.
Segundo ele, conforme vai sentindo a necessidade, o usuário pode dar um upgrade no equipamento. A partir daí, não há limites. Alguns modelos importados e bicicletas mais sofisticadas, usados por atletas de alto desempenho, chegam a custar R$ 35 mil – o preço de um carro zero quilômetro.
Preços
A inflação no retrovisor
Um sinal do aquecimento do mercado de bicicletas pode ser medido pela inflação de peças e equipamentos. Um espelho retrovisor, item de segurança para quem usa a bicicleta no trânsito da cidade, mais que dobrou de preço em menos de 12 meses.
Um modelo de espelho convexo, importado da China, que custava R$ 16 no ano passado, hoje não é encontrado por menos de R$ 35 – uma alta de quase 120%.
No mesmo período, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), indicador que baliza as metas do Banco Central, subiu 7,23%. Isso significa que, se fosse corrigido apenas pela inflação média, o espelho retrovisor hoje estaria custando bem menos – mais precisamente, R$ 17,15. (ACN)
No pedal, ingleses movem “uma Londrina”
Um estudo publicado recentemente pela London School of Economics revela que, ao pedalar, os ingleses ajudam a movimentar 3 bilhões de libras esterlinas (o equivalente a R$ 8 bilhões) ao ano na economia do país. Para efeito de comparação, o volume é 60% maior que todo o orçamento de Curitiba previsto para 2012. E equivalente ao Produto Interno Bruto (PIB) da cidade de Londrina.
O estudo considera não apenas a fabricação e venda de peças e equipamentos, mas toda a cadeia de serviços agregados, investimentos em ciclovias e até economia dos hospitais públicos, que economizam 760 milhões de libras (R$ 2,05 bilhões) ao ano no tratamento de problemas ligados ao sedentarismo. O setor é responsável por 23 mil empregos diretos no país, número que deve crescer ainda mais com a realização dos Jogos Olímpicos de Londres, em 2012. O evento deve agregar 1 milhão de ciclistas frequentes, regulares e ocasionais. O mercado potencial da Olimpíada é de 141 milhões de libras (R$ 380 millões).
Segundo o levantamento, o hábito de pedalar também gera economia para as empresas. Trabalhadores que usam a bicicleta faltam ao trabalho, em média, um dia a menos que os demais – com isso, os que pedalam ajudam as empresas a economizar 128 milhões de libras ao ano (R$ 345 milhões).
Vidas
O Centro de Pesquisa em Epidemiologia Ambiental (Creal), de Barcelona, divulgou levantamento que comprova que a implantação de um sistema público de bicicletas ajudou a reduzir em 24% as mortes na capital catalã, considerando-se todo o impacto positivo, sobre a saúde e o trânsito, das políticas de incentivo ao uso das bikes. O meio ambiente também saiu ganhando, evitando que 9 toneladas de dióxido de carbono (CO²) fossem parar na atmosfera. (ACN)
Busca por mobilidade muda perfil dos clientes
Enquanto boa parte da nova classe média brasileira ainda sonha com o status da motorização, representado pela compra do carro zero quilômetro, um outro grupo redescobre a bicicleta como um meio de transporte limpo, barato, eficiente e saudável. Conceitos como sustentabilidade, mobilidade e cicloativismo têm ajudado a impulsionar uma mudança no perfil dos consumidores.
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