Blog do Prof Nescau

sábado, 11 de fevereiro de 2012

Postura lamentável da apresentadora do GNT Monica Waldvogel sobre a bicicleta

by Webbikers
Lamentável a postura da apresentadora Monica Waldvogel do Saia Justa na GNT sobre Mobilidade Urbana. A falta de respeito e noção de mundo que a apresentadora conduziu o assunto é chocante. Vale a pena registrar uma reclamação junto a produção do Canal GNT.



O vídeo acima foi postado no twitter em outubro de 2011 e na época também gerou polêmica, mas durante estes dias o material voltou a ser disseminado pelas redes sociais gerando um buzz ainda maior e deixando todos estarrecidos com a opinião debochada da apresentadora sobre a bicicleta.

O ciclista Maximilian Frederick Leisner, do Blog do Max – Kona Bikes escreveu uma carta aberta a jornalista. A carta é uma crítica à fala da jornalista que, como qualquer formador de opinião, precisa ter cuidado redobrado com o que diz na tv, rádio ou qualquer outro meio de comunicação>

Por - Maximilian Frederick Leisner

Carta Aberta à Sra. Mônica Waldvogel
Prezada Sra. Waldvogel,

A semana que passou foi particularmente pesada para as pessoas que, como aquele amigo ao qual a senhora se refere no vídeo que tive a infelicidade de assistir hoje pela manhã, consideram a bicicleta como um meio de transporte, de vida saudável e de desenvolvimento urbano sustentável. Dois desses risíveis sonhadores – um com 21 e outro com 41 anos – foram atropelados e mortos em menos de 24 horas. O primeiro vítima de um motorista embriagado, e o segundo supostamente de um caminhoneiro que dormiu ao volante.

Em ambos os casos, podemos argumentar que as mortes foram acidentais, já que ninguém, por mais embriagado ou sonolento que esteja, desejaria matar uma pessoa. Logicamente que isso não exime a responsabilidade dos motoristas, e muito menos traz de volta à vida os ciclistas mortos. Mas fica, lá no fundo, aquela sensação de que se os condutores estivessem em pleno domínio de suas faculdades mentais, tudo poderia ter sido evitado.

Entra em cena – literalmente – o vídeo mencionado acima. Depois de assistí-lo várias vezes – primeiro para ter certeza de que aquilo que eu pensei ter ouvido realmente foi dito, e depois para ter certeza de que não foi desdito – minha primeira reação foi torcer para que o que vi tenha sido uma infelicidade de edição, daquelas em que só nos é mostrado o conteúdo podre, visando confundir a percepção do ouvinte ou prejudicar a imagem do interlocutor. Se esse for o caso, minha retratação virá prontamente – assim que o conteúdo integral for apresentado.

Se não for, então me vejo obrigado a estender um pouco essa cartinha, não tanto com a pretensão de que a senhora chegue a recebê-la, mas mais como catarse. Afinal, com os dois ciclistas que morreram eu só posso falar em pensamento. Para os familiares deles, não teria palavras. Mas para as suas declarações, e principalmente para o seu comportamento enquanto elas foram feitas, eu tenho muitos pensamentos, muitas palavras, e nenhum impedimento para externá-los.

Em primeiro lugar, a senhora deixa claro que em sua opinião a bicicleta não é um meio de transporte. Aí vem minha primeira dúvida: se eu vou de casa para o trabalho de bicicleta, como fazem milhares de pessoas por opção ou necessidade no Brasil e outros milhares mundo afora, e ela não é um meio de transporte, o que é então – além é claro de um obstáculo no caminho de motoristas bêbados, sonolentos e apressados? Ou de motivo de ironias, chacotas e piadas em rodinhas de bate-papo de gente inteligente e valente como a senhora, que munida apenas de um Ipod enfrenta engarrafamentos gigantescos?

Enquanto a sua resposta não vem, eu tenho a minha, inspirada nesse mesmo vídeo.

A bicicleta é a muleta do ciclista, que por sua vez é um animal com necessidades especiais de locomoção. Para esse animal, o carro, que seria a opção in, não serve. Ele realmente tem necessidades especias, tipo fazer exercício, sentir o vento no rosto, contribuir com o desenvolvimento urbano sustentável (eu sei, eu sei, isso é uma ameaça séria para os amantes de engarrafamento, mas….), diminuir a conta de combustível (eu sei, eu sei, quem pode comprar um Ipod nem sabe o preço do litro da gasolina, mas….) e outras tolices de eco-chatos e demais formas de existência nocivas ao bem estar do cidadão comum.

Na verdade, se a bicicleta não for isso, seria ótimo que passasse a ser. Porque nesse caso, de cara, duas coisas ótimas iriam acontecer:

1) na qualidade de portadores de necessidades especiais de locomoção, os ciclistas teriam direto à vagas privilegiadas em supermercados, bancos, escolas e nas ruas. E a partir daí a polícia não precisaria mais ser mobilizada para arrombar cadeados de bicicletas presas à postes de luz;

2) na qualidade de animais, os ciclistas passariam a ser protegidos por associações, instituições e similares, e poderiam trafegar pelas ruas sentindo-se assimilados pela comunidade ao invés de expurgados.

Mas, francamente, não tenho muitas ilusões a esse respeito. Como a senhora mesmo diz, “já imaginou hi hi hi um bando de paulistanos ho ho ho indo trabalhar de bicicleta rá rá rá?” É, não dá pra imaginar. Se isso acontecesse, o Brasil – ou São Paulo ao menos – transformar-se-ia subitamente numa Amsterdam, numa Copenhagen ou numa Minneapolis – que como todos sabemos são lugares de péssima qualidade de vida, haja visto a probabilidade cada vez menor de engarrafamentos (onde escutar música então, oh céus??). E quem, em sã consciência, poderia desejar isso?

Alias, “como a senhora mesmo diz” é realmente o grande motivo que me traz ao teclado. Monica Waldvogel, quer eu concorde, goste, acredite ou não, é uma formadora de opinião. E como tal, suas palavras tem um eco que vai além do seu universo particular. O que é dito por formadores de opinião vai adiante, vai fundo, e principalmente hoje em dia, vai rápido. Ergo, pessoas que assistiram ao seu singular e risonho depoimento acerca da total inutilidade da bicicleta como meio de transporte, e por consequência da imbecilidade de quem insiste em utilizá-lo como tal, podem acabar influenciadas por esses conceitos.

E se isso acontecer, a senhora para mim é responsável por delito muito maior do que os atropelamentos acima. A senhora, ao ridicularizar o ciclismo como movimento urbano digno de respeito, atropelou não um, nem dois, mas centenas de milhares de indivíduos que usam a bicicleta por prazer ou necessidade. Sabe por que? Por que estava (até que se prove em contrário) sã! Passava no teste do bafômetro, não parecia sonolenta, e muito menos arrependida do que falou. A senhora atropelou o ciclismo e todos os ciclistas brasileiros olhando para uma câmera de televisão, sabendo que estava sendo filmada, e depois, rindo esganiçada, deu a ré e passou por cima de novo.

O seu trunfo é um só: ao contrário dos motoristas, cujo mal foi feito e não pode mais ser desfeito, a senhora tem como voltar atrás. Não precisa mudar de opinião – não é esse o ponto. A senhora pode, deve, e tem todo o direito de defender-se de engarrafamentos e da chuva dentro de um carro sequinho com som ambiente. Mas reforçar essa verdade e esse direito não implica em fazer daqueles que optam por pedalar em duas rodas a céu aberto – mesmo correndo o risco de tomar chuva (éca!) – motivo de chacota.

Acredito que o mundo seja grande o bastante para que cada um tenha garantido o seu espaço e o respeito às suas preferências. Olhando para a linha do tempo e ao redor do nosso espaço, imagino que os animais com deficiência de locomoção apoiados sobre suas muletas de duas rodas – esses bípedes defeituosos porém teimosos – acabarão transformando seu universo à imagem, por exemplo, da Holanda. Lá serão felizes, indo e vindo sob o sol ou sob a chuva, com seus meios-de-seja-lá-o-que-for. Já os membros da sua seita – seres que precisam apoiar-se em quatro rodas sob pena de morrerem estagnados – os poderosos e indestrutiveis quadrúpedes – serão eternamente felizes em lugares como Bangladesh, Cidade do Cairo ou – para que ir tão longe afinal – a marginal Pinheiros em 2012 num dia de chuva.

Amanhã, apesar do medo, da tristeza e de um certo inconformismo, vou pedalar. Quem sabe quando voltar para casa não encontrarei na caixa de mensagens um outro vídeo seu, que embora não traga de volta os ciclistas mortos terá o poder indescritível de restaurar a dignidade que as suas palavras e atitudes roubaram daqueles que ficaram e dos que ainda virão.

Sem mais,

Maximilian Frederick Leisner
Ciclista amador, pai de família e, por hora, cidadão inconformado

Mais um ciclista morre atropelado na BR-277. Até quando?

Fonte: Ir e Vir de Bike – Gazeta do Povo


Morte na pista: Paraná é o segundo estado mais violento do país para os usuários de bicicleta.

A tragédia se repete e todos se perguntam: até quando? Enquando não surgem respostas, muitas vidas vão se tranformando em estatísticas.
Na manhã dessa quinta-feira, o ciclista Demétrius Kirache, de 41 anos, morreu enquanto pedalava com um grupo de amigos na altura do quilômetro 65 da BR-277, em São José dos Pinhais.
O ciclista foi atropelado por um caminhão desgovernado que invadiu o acostamento. Kirache morreu no local. Já o motorista-assassino fugiu em alta velocidade sem prestar socorro.
A informação da Ecovia, concessionária de pedágio que administra o trecho da BR-277, é de que a Polícia Rodoviária Federal (PRF) já tem a placa do veículo e está tentando localizar o motorista.
Porém, em contato realizado com o posto da PRF que fica mais próximo do local do acidente, o policial rodoviário Braga informou que não tinha a placa do veículo para tentar localizar o caminhão.
Acidente? Fatalidade? Não. Seria acidente se um raio tivesse caído na cabeça do ciclista...
Desde 2001, mais de 1,8 mil ciclistas morreram vítimas de acidentes de trânsito no Paraná. A média é de um acidente fatal a cada dois dias, segundo dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM/DataSUS), do Ministério da Saúde.
Com pouco mais de 5% da população nacional, o estado é responsável por 10% dos acidentes fatais envolvendo ciclistas em todo o país.
Em 2010 (dados mais recentes) o Paraná foi o segundo estado mais violento do país para os usuários de bicicleta, com 144 mortes nas ruas e estradas.
Comparar o número de mortes no trânsito com o de guerras já virou clichê, como dizemos no jargão jornalístico. A tese da Guerra no Trânsito deve mesmo ser refutada. Guerra pressupõe igualdade de condições de combate entre duas forças antagônicas que se reconhecem mutuamente como inimigas.
Guerras tem leis, ditadas pela Convenção de Genebra. Um trânsito que mata mais de 40 mil pessoas em um ano -- cerca de 110 brasileiros POR DIA -- não é bem uma guerra; é um GENOCÍDIO. Só não vê isso quem não quer ou que está do lado do "exército opressor".
Nosso trânsito -- um dos mais violentos do mundo -- é o retrato do nosso subdesenvolvimento civilizatório.
Vivemos em um país que permite a venda de bebidas alcoólicas em postos de gasolina na beira de estradas e rodovias com o argumento torpe de "manutenção de empregos"; em que pessoas invocam a "liberdade de expressão" como justificativa para denunciar locais de blitze policiais; e em que, a própria Justiça, cega como é, deixa crimes de trânsito impunes e, quando muito, troca vidas por cestas básicas.

Cuidado com as capivaras
Não se pode responsabilizar diretamente a Ecovia pelo acidente de hoje. Da mesma forma como não se pode eliminar totalmente sua parcela de culpa por todos os acidentes fatais que já ocorreram naquela rodovia.
É de conhecimento público e notório que a BR-277 é usada diariamente por grupos de ciclistas. Fato este que, aparentemente, só é ignorado pela própria concessionária.
Apesar do elevado número de acidentes fatais envolvendo ciclistas, a Ecovia tem ao longo da estrada dezenas de placas alertando os motoristas para a presenvação da capivara, da jaguatirica ou do papagaio-da-cara-roxa.
Assim como não há relatos comprovados de motoristas que tenham visto algum desses animais no meio da pista, não há registro de placas alertando para a presença de ciclistas no acostamento.
Se quer mesmo construir uma imagem de responsabilidade social, a empresa poderia fazer isso ajudando a preservar a vida das pessoas. Antes que os ciclistas se tornem uma espécie ameaçada de extinção...
Colaborou VITOR GERON